Seja sincero, quando você ouve alguém chamar Deus de Aba, o que vem a sua mente? Pode responder.
Começo refletindo que as primeiras vezes que ouvi alguém chamar Deus de Aba, foram nas canções...
Estava eu em um ensaio e chegaram com a proposta: vamos cantar Aba pai!
— Aba?
— Pai ... Eu, hein?! Que significa isso?
Claro, não perguntei a ninguém, mas fiquei pensando que novidade era aquela. Na minha concepção ignorante, julguei ser alguma inovação, uma modinha, mas no decorrer dos anos fui compreendendo que não havia nada de novo, nessa nova maneira de chamar Deus.
Uma breve consulta no dicionário bíblico, mais exatamente na primeira página, lá estava a misteriosa palavra "Aba". A descoberta foi impactante, pois fazia referência a uma palavra genuinamente destinada a um filho. Aba é um jeito fofo de chamar o pai hebreu, é mais ou menos como os nordestinos chamam o "painho" deles. É muita ternura!
O primeiro a chamar Deus de Aba foi Jesus, no momento de maior crise interior, Jesus olha para o céu e declara:“Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”.
Em toda jornada de Jesus aqui na terra, é possível ver como ele tinha uma relação íntima com o Pai, eles eram a representação da família que todos desejam, parceria, lealdade e segurança. Contudo, quando refletimos no momento no Getsêmani, que se encontra no Evangelho de Marcos 14:36, nessa passagem onde o evangelista descreve a oração de Jesus, pouco antes de sua prisão, é possível parar um pouquinho e imaginar a angústia do coração de um filho, pertinho da maior dor da sua vida: a cruz.
A expressão Aba, no aramaico é peculiar às criancinhas, é o balbuciar infantil à procura do seu genitor. No momento de dor, Jesus se posiciona como um frágil homem, à procura do acalanto do seu Pai. — paizinho, está doendo muito, faz alguma coisa!
Essa descoberta muda tudo em mim, aquela palavra antes tida como uma expressão estranha, salta do meu imaginário questionador, e repousa no mais profundo do meu coração, nas entranhas da minha alma. Só entende o significado de Aba quem passou pela dor dilacerante do abandono, da rejeição ou da dor extrema, e teve que lidar com tudo sozinha. O diálogo do Getsêmani não se trata de um bate-papo informal entre pai e filho, degustando um bom café da manhã no comercial de margarina. Não é a conversa rápida de antes de dormir. Quando Jesus chamou Deus de Aba, era o filho sentindo a dor do vazio de ficar longe do pai dele, ele queria passar a vez, — ficar sem meu pai?! Ele pensou e sentiu, no seu interior gritava: — Não, papai, vem aqui me resgatar! Mas como um filho obediente Jesus termina sua interlocução dizendo: eu escolho sua vontade!
Jesus, o filho de Deus, escolheu o distanciamento momentâneo do Pai, o seu terno Aba, para que hoje nos pudéssemos olhar para o céu e dizer : Aba, Papai. Consegue mensurar isso? Antes de Jesus não tinha Aba, depois de Jesus temos um Aba.
Agora cantar Aba é pouco. Cantar por cantar é um desperdício, pois essa é a forma mais gentil e meiga de colocar a pessoa mais importante da sua vida no seu devido lugar. Pode usar a referência que desejar, é pessoal essa relação, o importante é que o chame para sua vida, e todas as vezes que ouvir a palavra Aba, pare um pouquinho, mensure o quanto Jesus sofreu para garantir que seu coração seja aquecido pelo mais genuíno amor.
O Aba, Pai, não se trata de um modinha, nunca foi, chamar Deus de Aba é a expressão máxima de alguém que não consegue viver sem a presença do seu Pai. É por isso que não podemos jamais crescer, filhos grandes não conseguem chamar Aba, só os pequeninhos o chamam assim.
Crianças são dependentes de um Aba, e é assim que devemos ser!
